domingo, 4 de outubro de 2009

O que é RPG ?!

RPG em sua simplicidade: O roleplay, ou o ato de interpretação, acredite ou não, é uma parte importante em nosso dia-a-dia. Crianças pequenas fazem isso quando brincam de policia e ladrão ou de índios e cowboys. Atores fazem isso quando estão atuando. A maioria dos adultos fazem isso de uma maneira ou outra durante o seu dia de trabalho (a maioria das pessoas se comporta diferente no trabalho ou quando estão ao telefone do que elas realmente são - isto é uma forma de interpretação). Psicólogos também usam a interpretação como uma ajuda a em sua profissão. Deixando todas as definições de lado, os roleplaying games podem ser melhor descritos como "jogos de interpretação com regras". Alguns talvez possam ter mais regras que outros. Alguns podem ser mais "interpretativos" do que outros. Mas a grande maioria têm em seu comum o contexto: "interpretação com regras".
Como os RPGs funcionam: Quando as crianças pequenas jogam polícia e ladrão, um aponta o dedo para o outro e diz "Bang! Te acertei!". A este ponto a resposta mais comum é "Não, não! Você errou!". Por ser uma interpretação, não há regras para se determinar se a bala acertou ou não o alvo. No entanto, nos RPGs existem regras para garantir que tais argumentos não existam (apesar de às vezes surgirem do mesmo jeito). Na maioria dos casos, existem números que representam as chances para esta "bala imaginária" atingir seu alvo. Dados são rolados (existem exceções - alguns jogos não utilizam dados) em relação a um número para determinar o resultado final, se a a bala acertou ou não. Uma vez que esta determinação é feita, o outro jogador pode dizer, dependendo do resultado, "Você errou !! HAHAHA !!" ou "ARGH! Você me acertou". E é lógico, ninguém é baleado de verdade. Os role playing games se tornam realidade inteiramente na imaginação das pessoas que estão jogando. Os jogadores, por exemplo, se imaginam na pele de um explorador espacial. Eles se imaginam como é explorar a floresta alienígena de um outro planeta. Eles imaginam todos os elementos que fazem parte do jogo, mesmo que eles mesmo inventem ou que se tenha dito a eles o que já existe ao seu redor.
O Mestre do Jogo: diferente das regras de esportes ou jogos de tabuleiros, as regras de RPGs podem variar muito. Diferentes interpretações destas regras são utilizadas pela grande maioria dos jogadores de RPG (geralmente pendendo a favor dos jogadores).Para manter o jogo mais organizado, para que ele não se torne uma livre interpretação que pode ser prejudicial ao jogo, a maioria dos jogos necessitam de um juiz no caso é Mestre. É o trabalho do Mestre saber as regras de um RPG em particular, ou o que será utilizado durante o jogo, para que ele/ela possa resolver qualquer dúvida que apareça. Desta maneira, quando um jogador rola os dados para determinar se a bala acertou seu alvo, o Mestre está lá para garantir que nenhum argumento irá alterar o resultado, e para que os jogadores não criem atrito entre si por causa do resultado. O trabalho do Mestre demanda uma pessoa matura, conciente do jogo e experiente.
Conseqüentemente, isto significa que ser o Mestre vai além de apenas ser o mais velho, ou o que conhece mais as regras. É por isso que não é incomum encontrar alguém de 15, 16 anos mestrando para jogadores de 11 a 17 anos de idade, ou até mais velhas. Geralmente os grupos de rpg se concentram por idade, formando grupos de 11 a 17, e de 18 para mais. Mas isso tende muito a variar.
Interpretação Coletiva: em qualquer RPG, é trabalho do Mestre criar um ambiente em que todos irão participar. A decisão sobre que tipo de ambiente (ou gênero) a aventura irá se desenrolar geralmente é feita com a opinião de todos os jogadores. Mas todo o resto do trabalho geralmente cabe ao Mestre decidir - as pessoas, lugares e eventos com quais os jogadores deverão interagir.
O que o jogador faz: parece que há bastante trabalho envolvido quando se fala no Mestre. Mas é justamente por causa disso, por ele ser o Mestre! Ele deve colocar as regras, facilitar o andamento do jogo, mediar os argumentos e discussões, criar ganchos para aventura e um enredo que irá ser interessante e criar todo o ambiente do jogo. É por isso que a pessoa que assume este papel precisa ser madura, sensata e experiente. Se o Mestre não estiver gostando de assumir o papel de Mestre, isso irá ficar claro e desagradará a todos os jogadores. Mas não pense que os jogadores não fazem nada enquanto o Mestre faz todo o trabalho pesado. Longe disso. Os jogadores precisam ter um conhecimento do sistema de jogo, suas regras e as variações que serão utilizadas pelo Mestre. É também dever dos jogadores se comportar de uma maneira madura e responsável, e não como uma criança que insiste em dizer "Não! Você errou! Eu ganhei!" (No RPG, isto é equivalente ao Mestre tomar uma decisão que é contrária aos desejos do jogador. E enquanto o Mestre está criando as pessoas, lugares e eventos da ambientação proposta, os jogadores precisam criar o personagem fictício com quem eles irão jogar.
Na maioria das vezes, cada RPG tem diferentes regras para a criação destes personagens. Em alguns jogos precisa-se rolar dados para determinar a personalidade e habilidades deste personagem, enquanto que em outros o jogador precisa gastar um número pré-determinado de "pontos" para "comprar" habilidades e características que fazerão este personagem melhor do que o normal. Alguns jogos combinam as duas técnicas e outros requerem que o personagem seja baseado em outros pré-criados, com mínimas modificações para torná-lo diferente dos outros personagens baseados neste mesmo exemplo. Entretanto, uma coisa que a maioria destes métodos tem em comum é que cabe aos jogadores definir a personalidade do personagem. Ele será um paladino da paz ou um guerreiro brutal como Conan? O personagem é educado ou rude? Limpo ou sujo? Ele fala normalmente ou tem algum sotaque? Raros são os jogos que forçam o jogador a assumir um personagem cuja personalidade não foi escolhida por ele (por isso, se o jogador joga com um personagem cheio de armas, que adora chutar gatos na rua e atirar pedras em carros é porque o jogador escolheu isso, e não porque as regras do jogo impuseram isso a ele).
Mas para inventar estas características de personalidade requer que o jogador pense numa razão em porque seu personagem tem tais características. Se o jogador decide que seu jogador, Saffron, o Mago, tem medo de barcos, ele precisa, por exemplo, decidir que Saffron caiu de um barco quando era criança e tem medo de barcos desde então. Este incidente em particular geralmente nunca irá ser explorado mais profundamente no jogo, mas o jogador pode utilizar esta particularidade em um jogo para determinar que as ações de Saffron nunca envolverão um passeio de barco, por exemplo. Esta história e muitas outras que podem ser inventadas para justificar as características do personagem são usualmente conhecidas como "background".
Colocando tudo isso junto: com o Mestre tendo criado o gancho para uma aventura, as situações envolvidas e o cenário em que tudo se desenvolverá, e os jogadores terem decidido com que personagens atuarão, tudo está pronto para o jogo. Com o jogo iniciado, o Mestre atua como um diretor, direcionando as ações que rolarão sobre a aventura criada por ele, e cada jogador atua como diretor de seu próprio personagem, determinando pela personalidade e história agregadas a seu personagem como ele deverá reagir quando confrontado com as situações criadas pelo Mestre. A junção dos jogadores atuando como diretores de seus personagens, e o mestre atuando como mediador, contador de histórias, ator e diretor, é que forma todo o Role Play. Uma vez que o jogo inicia, todo o jogo atual se forma na imaginação dos jogadores e do Mestre (Ninguém realmente age fisico ou psicologiamente durante o jogo, a não ser em exceções que podem ocorrer durante momentos impolgantes do jogo. O Mestre narra a aventura e assume os personagens que aparecem na história mas não são criados pelos jogadores (chamados "NON-Player Characters" ou "NPCs"). O jogador então reage com o que o Mestre descreveu.
Existem diversos tipos (ou "gêneros") de rpg hoje em dia. Cada um mais interessante e divertido que o outro.

Lembrando que Rpg é um jogo como qualquer outro porém é impressionante como o Poder Público e a mídia conseguem deturpar a realidade, transformando situações específicas em genéricas, deslocando as causas dos acontecimentos e colocando verdadeiros cabrestos preconceituosos na opinião pública. É o que está acontecendo no caso do assassinato da estudante Aline Silveira Soares, de 18 anos, ocorrido em Ouro Preto (MG) em outubro do ano passado.
Aline foi encontrada morta a facadas no cemitério. As marcas de sangue e a posição do corpo indicavam provável ritual. Aline jogava RPG e diversos jogadores de seu grupo foram indiciados pelo crime.
Bastou um jogador de RPG supostamente matar uma jogadora de RPG que a maioria das pessoas, mesmo sem ter a mínima noção do que é o jogo, abominá-lo, por influência direta dos meios de comunicação. Vários livros sobre RPG começarão a ser classificados por faixa etária (até aí, tudo bem) e alguns outros ("Illuminati", "Vampiro, a Máscara" e "Demônio, a Divina Comédia") podem até ser retirados do mercado. Tem até gente que defende a proibição do jogo no Brasil!
O RPG (Roleplaying Game) é, genericamente, um tipo de jogo de representação onde um "contador de histórias" narra uma aventura e os outros jogadores participam com personagens previamente elaborados. O contador, que geralmente é chamado de mestre (sem nenhuma conotação religiosa ou hierárquica), tem a incumbência de fazer o jogo se desenrolar de acordo com as ações dos outros jogadores. É como um filme que possui apenas um esboço do roteiro: ele vai se desenrolar de acordo com as opções tomadas pelos participantes durante o jogo.
Os jogadores precisam elaborar personagens de acordo com cada aventura a ser narrada pelo mestre. Personagens esses que podem possuir características (força, inteligência, habilidades, modo de pensar, objetivos de vida, até espécie e sexo!) diferentes do próprio jogador. Para sermos bem caricatos, isso não quer dizer que um homem que tem como personagem uma condessa do século XVII vai se travestir de mulher e ficar fazendo trejeitos, ou que uma mulher que representa uma assassina profissional do século XX vai aparecer na sessão de RPG com roupas negras e armas de verdade para matar todo mundo. Os jogadores apenas explicam ao mestre o que seu personagem está fazendo e, durante a explicação, podem fazer gestos, movimentos com o corpo e até pequenas atuações improvisadas.
O jogo pode se passar na época medieval, onde os personagens dos jogadores precisam resgatar a princesa raptada; no futuro, onde os personagens estão em missão diplomática para promover a paz no planeta Terra-7; numa dimensão alternativa, onde Hitler venceu a Segunda Guerra Mundial e os personagens são da força rebelde dos Estados Unidos; ou até na cidade de Jaú, onde os personagens são cidadãos comuns, que, por coincidência ou não, recebem uma carta misteriosa dizendo para se encontrarem em tal lugar.
O RPG dá asas à imaginação. O RPG incentiva a leitura e a escrita. O RPG é uma das melhores formas de se desenvolver a criatividade. O RPG ensina aos jogadores o trabalho em equipe, o companheirismo e uma melhor convivência social. O RPG evolui a inteligência, o raciocínio e a percepção. O RPG ensina ao jogador o que está acontecendo ao seu redor, na sua cidade, no seu país e no mundo. O RPG descobre habilidades ocultas no indivíduo, como por exemplo o dom de desenhar ou de representar. E tantas outras vantagens.
Infelizmente, nós, jogadores de RPG, temos que conviver diariamente com a falta de informação da população. E continuamos lutando contra o preconceito:
1 - Não fazemos parte de uma seita ou culto demoníaco. Apenas nos reunimos constantemente para praticar um gosto em comum, assim como enxadristas se reúnem para praticar xadrez;
2 - Não somos nerds. Apenas gostamos de ler e pesquisar sobre o jogo. Para isso, precisamos ter livros e periódicos sempre em mãos;
3 - Não somos homossexuais. Assim como no futebol, não há interesse grande de mulheres em participar de jogos de RPG, apesar de o número de jogadoras aumentar a cada ano;
4 - Não somos malucos. Apenas gostamos de conversar uns com os outros sobre guerras e paz, humanos e alienígenas, monstros e heróis, deuses e mortais, anjos e demônios, vampiros e caçadores, elfos e dragões, geralmente presentes nas histórias de RPG, uma vez que o jogo se baseia na ficção e aventura;
5 - Não somos assassinos! Apenas imaginamos situações de nossos personagens num mundo fictício. A morte faz parte da vida (é nossa única certeza, aliás), e, pelo fato de os personagens serem heróis, muitas vezes se arriscam demais e podem morrer (assim como em alguns filmes). Não somos nós que matamos e não somos nós que morremos, são nossos personagens. Infelizmente, o assassino de Aline não soube diferenciar a enorme fronteira entre ficção e realidade.
Do mesmo jeito que é possível haver médicos que fazem parte de uma seita demoníaca, ou padres nerds, ou procuradores da república homossexuais, ou atores malucos, também é possível haver um jogador de RPG assassino. O ridículo é achar que a causa do assassinato ocorrido (ou de qualquer homicídio) foi o RPG, ou o xadrez, ou qualquer outro jogo.
Jogo RPG há 7 anos. Durante esse período, escrevi seis livros-enredo a punho, tendo que pesquisar (em fontes como livros, jornais, revistas, internet, profissionais da área e outros) história mundial, geopolítica, literatura, artes, direito, economia, e diversos outros ramos de ciência. Não há uma sessão de jogo em que ninguém aprende algo importante a respeito de convivência social, cotidiano brasileiro e mundial ou História. Não há um dia de sessão em que não volto para casa dando graças a Deus pelo valioso grupo de amigos que tenho, formado por causa do RPG. E mesmo que proíbam o RPG, não vamos deixar de jogar, porque não somos marginais.

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